Moda | 5 Princípios para um Consumo Consciente
Tenho uma ideia romântica da moda: mais do que uma simples escolha de dia-a-dia, uma forma de expressão que mostra quem somos pela nossa postura nas roupas que vestimos. Gosto de acreditar que é essa natureza expressiva que apaixona tantas pessoas por esta arte. Por desde adolescente ter encarado a moda como uma forma de me expressar, procurava constantemente novas peças que me permitissem cada vez melhor dizer quem era – o que levou a que começasse a comprar com bastante frequência. A minha breve experiência com o consumismo começou pela altura em que os meus pais me deram liberdade para comprar a minha própria roupa, com 15/16 anos. Em pequenina, costumava passear pelos corredores das lojas com a minha avó, pelo que estava familiarizada com a qualidade e o custo das diversas marcas dos centros comerciais. No entanto, a minha sensibilidade pelas cores, pelos tecidos ou pelo corte das peças não era tão delicada como agora. Por isso, nem sempre optava pela boa qualidade, pela facilidade em conjugar com as minhas roupas ou pela praticabilidade no dia-a-dia. Com o passar do tempo, comecei a perceber que rapidamente deixava de ter gosto em vestir grande parte das roupas que comprava e sentia necessidade de comprar mais. Gostava imenso de estrear uma roupa nova, mas percebi que usava mais por ser “novidade”. Passado uns tempos, deixava de ser… e eu deixava de gostar. Cheguei então à conclusão de que comprava por impulso e extravagância, em vez de por verdadeira necessidade das peças. E este comportamento pode chamar-se, resumidamente, por consumismo.
Ganhei consciência, passado algum tempo, de que este consumo excessivo poderia tornar-se num problema sério, então quis colocar-lhe um ponto final. Pelos 17/18 anos, controlava muito bem os meus hábitos de consumo. Como? Comecei por me conhecer melhor: os estilos com que mais me identifico, as peças indispensáveis no meu roupeiro, os meus tecidos preferidos, as minhas cores de eleição. Consequentemente, aprendi mais sobre marcas e designs, cortes e texturas, composição e cuidados. Desenvolvi, ao longo destes anos, uma ideologia muito própria em relação ao consumo, que resumi em cinco princípios. Quero dizer-vos, antes de partilhar as minhas ideias convosco, que cada pessoa tem a sua maneira de lidar com a moda e o consumo: o seu estilo, as suas inseguranças, as suas prioridades, as suas possibilidades financeiras e por aí adiante. Esta foi a que desenvolvi para mim, de acordo com as minhas características. O primeiro passo será sempre ganhar consciência para o consumo; a partir daí, fazer as mudanças ao nosso alcance. Curiosas(os)?
I. APAIXONA-TE
O meu primeiro princípio quando vou às compras: levar apenas algo por que estou completamente apaixonada. Existem muitas peças de roupa que adoro, no entanto aprendi a comprar apenas aquelas que, dentro do que estou a precisar, me deixam verdadeiramente perdida de amores. Resume-se a uma ou duas peças, no máximo três, de cada vez que vou às compras; e, em grande parte das vezes, não encontro nada que me deixe mesmo de queixo caído. Para quê comprar peças de que gosto “mais ou menos”? Este outono, a minha peça de amor-à-primeira-vista foi um sobretudo, com um corte lindíssimo, que se adapta muito bem ao meu estilo e que estava dentro daquilo que precisava para o tempo mais frio. Ao investir em peças de que gosto mesmo muito, que combinem com a minha maneira de vestir e com o que tenho por casa, garanto que a pouco e pouco vou construindo uma coleção minha, composta por roupas que estimarei durante muito tempo. Na próxima estação (e, espero, nas que se seguem) garantidamente não precisarei de comprar um novo sobretudo, porque este ano comprei um do qual verdadeiramente gosto.
II. OPTA PELA QUALIDADE
O meu maior desafio em relação à moda passa por encontrar um equilíbrio entre os preços bastante caros das marcas de luxo e os preços demasiado baratos das fast fashion. Acredito que existe um meio termo, como algumas marcas pequenas que produzem de uma forma sustentável, no entanto muitas vezes os preços ainda acabam por ser um bocadinho limitativos. Dou muito valor à qualidade, por isso procuro escolher bons tecidos, com bons acabamentos, que durarão mais tempo sem se desgastarem. Quanto mais tempo durar uma peça de roupa, menor será a necessidade de a substituir por outra. Por isso, dou mais importância à qualidade do que à quantidade. Um dos segredos para reduzir a necessidade de comprar roupa com frequência passa por investir mais em peças melhores, dentro das possibilidades de cada pessoa. Prefiro ter dois bons sobretudos de inverno, por exemplo um preto e um castanho, que são cores versáteis, do que ter cinco ou seis que duram apenas uma estação em boas condições. Neste ponto, não me canso de reforçar: os cuidados em estimar as peças são tão (ou mais!) importantes do que a sua qualidade original. Há preços inacreditavelmente baixos por várias razões – a má qualidade dos tecidos e a mão-de-obra a custo quase zero são apenas algumas. No meu caso, ainda acabo por comprar alguma roupa em marcas fast fashion, mas procuro cada vez mais outras opções. Está a ser um processo moroso encontrar o tal equilíbrio entre o gosto pelas roupas, a tranquilidade em serem produzidas de forma sustentável e a disponibilidade financeira para as comprar. Pelo contrário, não encontrei muitas dificuldades em fazer essa transição no ramo dos acessórios. De qualquer forma, parece-me que a consciência desta realidade pode ser um grande passo – que comecemos a pensar e, consequentemente, a mudar o nosso consumo por algum lado.
III. PRATICA O DESAPEGO
Importantíssimo: saber reconhecer quando uma peça de roupa deixa de nos servir – no tamanho, no gosto, na qualidade, na necessidade. Gosto de organizar o meu roupeiro com bastante frequência, pelo menos duas vezes por ano, para saber o que tenho e o que preciso de comprar para cada nova estação. Não costumo ter grande dificuldade em abdicar de peças de roupa que deixaram de me servir. Se estiverem em bom estado, faço questão de as doar – algo que aconselho muito, porque algumas famílias portuguesas passam por sérias dificuldades e estes miminhos são sempre bem-vindos. Eu dou as minhas roupas a uma senhora que conheço há anos, que entrega a uma família na sua aldeia; deixa-me verdadeiramente feliz e disposta a doar sempre mais. Para mim, não há critério de seleção mais simples: se sei que não vou voltar a usar aquela roupa (não gosto mais, ou não me identifico mais, ou não a uso há anos), que não me vai ser útil em qualquer ocasião especial e que não tem qualquer significado emocional, então está na hora de deixar de ser minha. Simples, não é?
IV. PENSA NO AMBIENTE
Quero muito desenvolver o tema da moda sustentável no blog, porque me desperta imenso interesse. Sinto que ainda há muito para aprender e explorar nesta área. No entanto, por agora, gostava de deixar apenas esta nota: o consumismo não complica apenas a nossa vida pessoal como a coletiva – neste caso, a sustentabilidade do nosso planeta. A indústria da moda é uma das mais poluidoras, sendo também responsável por muitas crueldades. Gosto de ter consciência destes problemas, para saber as consequências das minhas ações de cada vez que vou às compras. Não acho que nos devemos martirizar quando não conseguimos fazer escolhas melhores, mas a sensibilidade pelo mundo em que vivemos leva-nos a adaptar os nossos hábitos com verdadeiro sentido.
V. CONHECES O MINIMALISMO?
Foi na entrevista da Joana Moreira à Cláudia Fonseca que conheci, pela primeira vez, o conceito de minimalismo e fiquei genuinamente curiosa sobre este estilo de vida. Tal como a Cláudia, não gosto de etiquetas que nos classificam como a ou b. Acredito simplesmente que podemos – e devemos – tirar o melhor de cada movimento e adaptar ao nosso próprio estilo de vida. Em quaisquer compras, mesmo para além da moda, tenho vindo cada vez mais a adotar uma postura consciente e ponderada. O consumismo tem diversas consequências – desde os gastos completamente desnecessários à acumulação de objetos totalmente prescindíveis -, o que acaba por contribuir para um desequilíbrio e uma desorganização de que ninguém precisa. O minimalismo surge, pelo que entendo, na procura por um estilo de vida marcado pela simplicidade e pela aquisição de somente aquilo de que preciso – nem menos, nem mais. Guiei-me muito por este conceito nos últimos anos, mesmo sem lhe atribuir um nome, e tem sido uma mudança muito saudável.
Esta partilha de ideias sobre moda – especialmente, moda consciente – será a base dos conteúdos do blog nos próximos tempos. Começamos em grande, com um tema sobre o qual adoro escrever. Concordam com estes cinco princípios para o consumismo? Acrescentariam algum? Contem-me tudo na caixa de comentários!
Fotografia: Pinterest