PESSOAL

Slow Living – Os Meus Dias

Há umas semanas publiquei algumas ideias sobre slow living, mas não cheguei a partilhar concretamente de que forma abrandei e simplifiquei os meus dias. Para ser sincera, estes tempos que nos obrigaram a permanecer em casa trouxeram-me a oportunidade de fazer uma longa pausa, de que bem precisava há algum tempo. Sinto mesmo que houve uma mudança decisiva na minha maneira de estar nestes últimos tempos, que permanecerá muito além do que vier daqui para a frente.

Acredito muito na organização e no planeamento – nos estudos, no trabalho, em casa, em (quase) tudo. Sempre pude contar com esta qualidade, mas confesso que nem sempre descomplicou os meus dias. A minha capacidade em ser organizada anda de mãos dadas com a minha dificuldade em ser realista relativamente a medidas, especialmente a calcular tempos (se bem que também sou um desastre com quilómetros). Esta limitação resultou numa contínua má gestão dos meus dias durante anos – estabelecia cinco ocupações para a manhã, mais cinco para a tarde, e quando chegava a hora de almoço ainda nem duas tinha concluído, arrastando para o decorrer da semana e deixando uma ligeira sensação de fracasso. No entanto, não há mais ninguém que deva responsabilizar pela imposição de metas demasiado exigentes senão eu, o que me leva a uma frase que não me canso de frisar: expectativas irrealistas levam a frustrações que, por sua vez, conduzem a desistências.

Paralelamente a uma capacidade de organização, acredito muito também no desenvolvimento de bons hábitos diários – aquelas pequenas coisas que cumprimos todos os dias que acabam por fazer uma grande diferença a longo-prazo. A regra das expectativas realistas também aos bons hábitos se aplica, para não cair na derrota – não me parece provável que, de um dia para o outro, se adicionem dez pequenos passos para dar todas as manhãs, mais outros dez para todas as noites, sem um esforço colossal para manter consistência. Para além disso, os nossos pequenos bons hábitos podem deixar de se adaptar ao nosso dia-a-dia ou deixar de cumprir o seu propósito de nos proporcionar bem-estar. Dou-vos um exemplo (story time!): quando trabalhava no escritório, acordava todos os dias às 6h da manhã para fazer uma caminhada; por mais estranho que pareça (e eu sei que parece), sabia-me incrivelmente bem acordar antes “do mundo” e ver o dia nascer. Quando comecei a trabalhar como assistente de bordo, deixei de cumprir esse hábito. Há uns tempos pensei em regressar a estas minhas caminhadas, o que se revelou um redondo desastre. Os meus horários passaram a ser irregulares, o que significa que todos os dias estou num momento diferente às 6h – tanto posso estar a fazer um voo cedo, como a descansar do voo do dia anterior, como a terminar uma noite de trabalho -, dificultando assim o hábito das caminhadas a uma hora certa, ao contrário de quando tinha um horário fixo. Existem hábitos, que até nos podiam fazer incrivelmente bem, que deixam de servir o seu propósito de bem-estar no momento em que não se adaptam ao nosso dia-a-dia, por uma mudança que aconteça – e não há mal nenhum nisso. Não vale a pena estabelecer metas que não cabem nas 24h do dia e que, ao invés de gerar calma, tranquilidade e bem-estar, só causam stress para as conseguir cumprir. Depois de alguns meses nesta batalha para encontrar os hábitos que acrescentam qualidade aos meus dias e que são compatíveis com o meu estilo de vida de há quase dois anos, consegui (finalmente!) determinar alguns passos para de manhã, durante o dia e de noite. Quais são, então, os pequenos hábitos que fazem a diferença nos meus dias?


De manhã, gosto de começar pela primeira coisa que define o resto do meu dia: acordar cedo. Gosto muito de me levantar pouco tempo depois de o sol nascer – se me levanto depois das 10h tenho a manhã perdida. Há uns dias a minha melhor amiga perguntou-me como é que eu conseguia acordar tão cedo; disse-me que sabia que eu sempre fui assim, mas não percebia como continuava a ser nesta fase em que estamos todo o dia em casa. Eis o segredo para acordar cedo (que não é um segredo por aí além, mas levou-me também algum tempo a perceber) – não está na hora a que acordamos, mas na hora a que adormecemos na noite anterior. Dificilmente nos levantamos às 7h se nos deitámos às 2h – o nosso corpo precisa de descansar e, apesar de não haver verdades absolutas nas horas de sono para cada pessoa, cinco horas servem para pouquíssimas. Assim que me levanto, gosto muito de fazer alguns alongamentos, para despertar o corpo; sabe-me mesmo bem começar o dia neste ritual, em vez de olhar para o telemóvel ou para a agenda. Depois do pequeno-almoço – que por si só pode ser um bom hábito a ganhar para quem costuma passar a refeição mais importante do dia -, gosto de fazer a cama. Há uns anos vi um discurso sobre este hábito de que nunca me esqueci – “If you make your bed every morning, you will have accomplished the first task of the day. It will give you a small sense of pride and it will encourage you to do another task, and another, and another. By the end of the day, that one task completed will have turned into many tasks completed. Making your bed will also reinforce the fact that little things in life matter. If you can’t do the little things right, you will never do the big things right. And, if by chance, you have a miserable day, you will come home to a bed that is made, that you made, and a made bed gives you encouragement that tomorrow will be better. So if you want to change the world, start off by making your bed“.






Durante o dia, gosto de garantir que tenho um momento de pausa, especialmente nos dias mais preenchidos, para acalmar a cabeça durante uns minutos; penso que, para muitas pessoas, será um equivalente a beber café depois de almoço. Gosto também de limitar o meu tempo nas redes sociais a menos de uma hora – antes destas semanas de isolamento estabeleci meia hora, mas quando estou em casa acabo por passar mais tempo no telemóvel. Expectativas realistas, lembram-se? Coloquei um reminder no instagram que me avisa quando passo mais do que esse tempo na aplicação durante o dia, para me auxiliar a cumprir este limite, para poder dedicar-me a outras atividades de melhor qualidade. Curiosamente, apesar de alguns progressos, este ainda está a ser um dos hábitos mais difíceis de cumprir.

Para terminar o meu dia, gosto de fazer novamente alguns alongamentos, desta vez para relaxar – acabar o dia com os mesmos movimentos com que o comecei traz-me muita paz. Gosto ainda de planear o dia seguinte antes de dormir, para me organizar mentalmente. Escrevo na agenda algumas coisas essenciais para cada dia, sendo que todos têm um mesmo ponto em comum: EXERCISE + EAT CLEAN + H2O. Comecei a colocar esta frase por inspiração de uma instagrammer norte-americana, daí provavelmente escrever em inglês(?), como uma lembrança diária de que, independentemente do que tenho pela frente, estes são os três hábitos mais importantes, que constituem a verdadeira base dos meus dias. Para monitorizar o exercício físico, uso um excel para organizar os diferentes treinos que quero fazer durante a semana e um espacinho para colocar aquele check que sabe tão bem. Bem sei que tudo isto me é muito pessoal, mas queria mesmo partilhar convosco o que faço para potenciar os meus dias. Confesso que tenho conseguido lidar bem com esta situação que vivemos, principalmente pelo cuidado que tenho tido comigo mesma. Parece-me que esta fase pode ser uma boa oportunidade para, mais do que nunca, nos dedicarmos a nós próprias(os) – perceber o que nos faz bem, o que nos faz menos bem, o que nos deixou de servir, entre (muitas) outras coisas.

Queria ainda deixar-vos algumas palavras sobre este período pelo qual estamos a passar. Tenho a impressão de que a grande maioria das pessoas tem assumido um de dois grandes extremos. Ou não conseguem fazer absolutamente nada ou andam a fazer tudo o que podem, quase como uma dicotomia de produtividade, como se fôssemos fábricas – algumas fecharam temporariamente, outras estão a produzir mais do que nunca. Cada pessoa tem os seus mecanismos para lidar com o que estamos a passar – e não há que sentir culpa por não se fazer nada ou por se fazer tudo -, mas parece-me que, mais importante do que andar ou a zero ou a mil, nesta fase podemos (e devemos) considerar a oportunidade de olhar para dentro, para nós. Estas semanas têm sido cruciais para cuidar muito, muito, muito de mim, do corpo à mente ao coração, num processo de autoconhecimento muito profundo. Arrisco dizer que uma das coisas mais valiosas que podemos retirar desta situação é o tempo que passamos connosco mesmas(os), em que estamos realmente presentes, empenhadas(os) no que nos faz bem – não para nos ocuparmos ou distrairmos, mas para nos conhecermos. Há uns dias ouvi a Joana Moreira dizer que “só evoluímos coletivamente se evoluirmos individualmente” e não podia estar mais de acordo. Cuidarmos de nós próprias(os) pode ser a melhor maneira de cuidarmos dos outros (e do mundo) – recentrarmo-nos, reinventarmo-nos e redirecionarmos a nossa energia para o que realmente importa. Guio-me muito por uma frase que escrevi quando partilhei as minhas expectativas para 2020 e que, em desabafo com pessoas mais próximas, digo imensas vezes: onde estou e para onde quero ir. Estou muito feliz por fazer esta partilha convosco. Gostava agora de saber de vossa justiça – quais os hábitos que acrescentam qualidade aos vossos dias? Contem-me tudo na caixa de comentários!

inesnobre
Um blog sobre o que mais me apaixona, como melhor me sei expressar - pela moda e pela escrita.

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