Aos meus 27
Escrevo-vos, como manda a tradição, para dizer umas quantas coisas sobre celebrar 27 anos. Escrevi aos meus 21, três anos depois escrevi aos meus 24, e agora, outros três anos mais tarde, cá estou para escrever aos meus 27. Fazer um balanço de aniversário a cada três primaveras já pode contar como tradição, certo? Confesso que, antes de começar a escrever, fui espreitar as publicações destes últimos dois aniversários. Fico genuinamente contente por ter estes pedaços da minha escrita disponíveis à distância de um clique – e se, em momentos de dúvida, não decidi fechar a porta deste cantinho online, terá sido por isso mesmo, para sempre poder recordar estas versões de mim.
Não deixo de achar curioso, e até divertido, que levasse tudo mais a sério aos 21 comparativamente aos 27 – talvez porque quisesse que me levassem mais a sério também? Fico contente e, sinceramente, agradecida por essa seriedade, que me permitiu desde cedo não me desviar do meu caminho, para poder agora ser mais descontraída e easygoing, mas não creio que seria mesmo preciso tanta exigência comigo própria logo no início dos vintes. Depois leio as palavras que escrevi aos 24 e encontro uma versão, mais inocente, menos polida, do que venho agora dizer com esta mais recente idade. Gosto de pensar na transição dos 21 para os 24 como uma altura de aventura e descoberta – sobre mim, como me apresento ao mundo, com quem me relaciono, para que futuro estou a caminhar -, e dos 24 para os 27 como uma fase de maturação e alguma adversidade, certamente mais dura, mas igualmente necessária. Se pudesse, abraçava estas duas versões de mim e dizia-lhes que tudo aquilo por que vão passar será importante para ganharem liberdade e resiliência, para poderem abraçar o que o futuro lhes trará.
Com 27 anos, as prioridades estão melhor definidas – e há mais tempo, energia e disposição para mais de mim lhes dedicar. Os dias continuam a ter as mesmas horas, mas são ocupados com mais propósito, com compromissos que realmente me enriquecem, com pessoas que realmente me fazem bem. Ganhei mais consciência para a forma como passo os meus dias, a que mais dedico o meu tempo, ao meu estado de espírito em cada momento, para procurar mais do que me faz feliz. Passei a adorar os dias normais e as pequeninas coisas que os preenchem – caminhadas pela brisa da manhã, receitas novas para experimentar cá em casa, atividades típicas de cada estação, almoços de família ao fim-de-semana. Estes dias, em que nada de extraordinário aparentemente acontece, acabam por ser aqueles em que me sinto mais presente. Se vos escrevesse há um ano este discurso provavelmente não seria tão positivo, mas as aprendizagens do ano passado e as pequenas coisas que adotei no início deste ano têm sido fundamentais para que me sinta em equilíbrio.
Creio que, acima de tudo, com 27 anos tenho mais ferramentas para saber lidar com as adversidades e, simultaneamente, desfrutar de tudo o resto. As preocupações são diferentes, mais realistas, mais maduras, mas também as distrações são mais leves, menos sérias, mais capazes de proporcionar aquela sensação de dar por mim a pensar “how lucky am I“. Gosto de pensar nestes três anos que me restam até aos 30 – que, pelo que ouço dizer, até são mais libertadores do que propriamente assustadores – como anos de descontração, de frescura, de leveza. Continuam a existir sonhos e objetivos por cumprir, mas há mais confiança no caminho. Enquanto os 30 não chegam, vamos encontrando-nos por cá?