PESSOAL

Sobre Genuinidade

Nas últimas semanas, distanciei-me um pouco do online – daí a minha ausência no blog nos dois domingos passados. De vez em quando, sinto que preciso de dar um passo atrás para olhar para a minha presença neste mundo das redes sociais e, principalmente, para reavaliar as minhas partilhas e as de quem acompanho. Para ser sincera, comecei a escrever este post no domingo passado; desde então, escrevo e apago, reescrevo e apago novamente, às voltas para encontrar as palavras certas para o que quero dizer. Desde que publiquei este blog, sinto uma pressão, que coloco em mim mesma, para que as páginas que o acompanham, principalmente o instagram, correspondam às expectativas. De quem? Não sei bem. Paralelamente – e, neste ponto, parece-me que grande parte das pessoas que conheço pode concordar -, sinto também uma fragilidade na linha que separa o quanto uma pessoa nos inspira e o quanto nos faz sentir mal connosco mesmas(os), o que acaba por, muitas vezes, tombar para o lado menos bom. Por isso, esta distância nas últimas semanas permitiu-me pensar muito sobre a toxicidade do online – o quanto genuinamente me deixo sugestionar pelo que de genuíno pouco tem e, simultaneamente, o quanto posso estar a contribuir para essa realidade que de real pouco, igualmente, tem.

Inspiro-me bastante em páginas de instagram para despertar a minha imaginação com ideias nos campos da moda, das viagens, dos livros e até mesmo da fotografia; ou, simplesmente, para me informar e entreter. No entanto, não posso deixar de confessar que, algumas vezes, me embrulho em supostas inspirações que se tornam tóxicas para mim. Especialmente por escrever no blog – e pelo cunho de blogger -, passo muito tempo (demasiado!) a procurar uma poção mágica para conseguir que as minhas palavras cheguem a mais pessoas, sem perder a minha genuinidade, sem seguir tendências com as quais não me identifico e, principalmente, sem contribuir para realidades distorcidas. Por vezes, preciso de me (re)lembrar a mim mesma de que este blog não se define, de forma alguma, na minha principal ocupação. Sou extremamente dedicada às áreas que considero serem prioridade na minha vida – desde as relações, ao trabalho, aos estudos; se essas áreas deixassem de ocupar o meu tempo e o online o tomasse, provavelmente conseguiria aplicar-me muito mais (e melhor) ao blog, ao instagram e ao facebook, como tantas das pessoas que sigo – e com as quais me comparo sem quaisquer fundamentos de semelhança.

Para além disso, desde que decidi encaminhar o blog para uma essência mais meaningful, mais verdadeira e mais eu (e, consequentemente, menos próxima do sucesso online que mencionei quando escrevi sobre autenticidade), comecei a querer que as minhas partilhas fizessem mais sentido e demonstrassem mais verdade – que acrescentem algo ou, quando não tenho muito a acrescentar, que demonstrem algo de mim, de forma leve e genuína. Penso que a possibilidade de publicarmos o melhor das nossas vidas acaba por, muitas vezes, construir um abismo de ilusões num feed de instagram, porque o melhor de algumas pessoas pode não ser tão bom como o melhor de outras – e também porque, na verdade, muito do que se vê online não parte de um lugar de genuinidade e de naturalidade (e pouquíssimo se partilha o behind the scenes). E se, por um lado, deve estar na consciência das pessoas que o online não se assemelha à realidade, parece-me que essas próprias pessoas perpetuam esta ideia de que todas as fotografias são genuínas e naturais. Bem sei que não vamos todas(os) passar a mostrar online os momentos menos bons (e ainda bem que temos liberdade para partilhar o que bem entendemos!), mas creio que podíamos todas(os) beneficiar de uma maior empatia entre nós, sem concursos de egos – no online e no offline.


Posso começar: nestes últimos meses sinto-me bastante bem, com uma felicidade e uma tranquilidade que não conhecia há algum tempo, mas estou bastante preocupada com a minha carreira. Se partilho as minhas preocupações? Não. Nos últimos dias tenho publicado algumas fotografias destes dias de verão, mas esta semana passei uma tarde no hospital, porque o meu namorado estava cheio de dores no coração. Se partilho a pulseira que me deram nas urgências? Não. Assim como eu, milhares de pessoas não partilham a sua quota-parte de realidade – porque causa desconforto, embaraço, vergonha. Portanto, não acredito em que se deixe de partilhar as coisas boas, nem em que se passe a partilhar as coisas menos boas, mas penso que, pessoalmente, devo fazer um trabalho de desconstrução da “realidade” do instagram para não me deixar controlar pelos ecrãs. E desse lado? Sentem o mesmo?

Sinto que eu mesma precisava de ler um post deste género. Por experiência própria, tenho a ideia de que, especialmente em épocas mais alegres, como as férias de verão, existe uma necessidade ainda maior de se partilhar e se mostrar que se vive o melhor verão de sempre, no melhor destino e com as melhores condições. Por isso: não há mal se estiveres a estudar para os exames que atrasaram as tuas férias, ainda que pareça que todas as outras pessoas se estão a divertir ao máximo; não há mal se passares o fim-de-semana mais quente do ano no fresquinho do teu quarto, a fazer o que bem te apetece; não há mal se quiseres dormir uma sesta ainda que não te bronzeies enquanto o fazes; não há mal se não puderes passar férias longe de casa, sejam quais forem as razões; não há mal se não fores à praia, ou à piscina, ou a ambas; não há mal se não tiveres o melhor verão de sempre. E por fim, não há mal se te sentires mais triste por parecer que todas as pessoas à tua volta estão no auge das suas vidas – basta desligar o ecrã, pousar o telemóvel e concentrar na única realidade que os nossos olhos vêm, sem poses nem edições. Porque há mais verdade nessa realidade do que em qualquer outra. Sim?

inesnobre
Um blog sobre o que mais me apaixona, como melhor me sei expressar - pela moda e pela escrita.
4 COMMENTS
  • Inês Nobre

    Obrigada, mãe! As tuas palavras são muito importantes para mim. Love you more, mommy ♡

  • Inês Nobre

    Querida Margarida, que palavras bonitas! Concordo com tudo o que disseste. Cada vez mais acho que este mundo online provoca os mesmos sentimentos – e as mesmas inseguranças – em todas(os) nós. Felizmente, cada vez mais também se descontrói o que tão bem defendeste – há dias bons, dias menos bons e dias assim-assim. Obrigada pelo teu comentário! O melhor está sempre por chegar. Um beijinho grande! ♡

  • Ana Pinto

    Maravilhoso filha! De longe dos melhores textos que tenho lido on line. Tão natural, leve e verdadeiro, como belo e de referência. Keep going! Love you so much!

  • Margarida Alves

    Querida Inês,
    Mais um post fantástico…. e este aborda um tema importantíssimo!
    Como compreendo perfeitamente aquilo que dizes e o que estás a tentar transmitir. Cada vez mais tenho tomado consciência do quão tóxico se torna este mundo de redes sociais se não soubermos desligar de vez em quando.
    É-nos criada uma ilusão de felicidade e perfeição fazendo com que sintamos que nos falta sempre algo. Mas na verdade o que falta mesmo é percebermos que não existem vidas perfeitas, existem sim dias bons, dias maus e dias mais ou menos. Mas é tudo natural e normal.
    Mantém-te assim linda, genuína e igual a ti própria! Por aqui vou continuar a acompanhar.
    Vai ficar tudo bem, acaba sempre por ficar!
    Beijinho grande.

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